terça-feira, 6 de maio de 2008

Rede de pescar na varanda

Estava miúdo
numa oração de musgo
calafetando olhar
nos pés do muro.

Assim conluio em doses
de lugar nenhum qualquer
e alguma tarde.

Desiscar uma rededes
sas bem atadas
na ceva da atoice
gasta ontens.

Como continuava armada
nem carece ser
só ficar de ardil
que a espera vem.

Rede de pescar na varanda

Estava miúdo
numa oração de musgo
calafetando olhar
nos pés do muro.

Assim conluio em doses
de lugar nenhum qualquer
e alguma tarde.

Desiscar uma rededes
sas bem atadas
na ceva da atoice
gasta ontens.

Como continuava armada
nem carece ser
só ficar de ardil
que a espera vem.

Pinguela

Antes da gente
era a curva do rio
cuidando as lonjuras.

E a gente
simples andorinhas
passíveis de azul
na tarde veloz.

Bulindo em correntezas
como fosse hábeis sem rumo
ou esquecidos dele.

Ainda dissipa o dia
e seu aroma desenterra-me
em conta-gotas
nas inumeráveis utopias
onde descuidei nosso rio.

Receita de Mãe

Pegue paciência
afeto e arco-íris
uma pitada de maria
misture vigília
porções de só
e miolo de alma a gosto.

Unte com luar
e leve ao nascente
em fogo brando
deixe amanhecer
todo dia

Parto de Ano

Quietude escorrendo
e a madrugada do primeiro dia
repousando um solzinho em conserva
que a gente até parece todo.

Assim parimos um ano
com cheiro novo de luz
acordando nossos breus.

Lenha

É hora como antes
de recolher escuro
antes que treva
inventar fresta.

Acordar arvoredo
na ausência de seiva
ensina ranger.

Sorte de brasa é arder
dizer um ai bem longo
e resistir rubra
entre as cinzas.

Vem aroeira
que o machado cega
é no cerne da gente

De aprender morrer

À bica do êrmo
assiste feito arado quieto
como a contemplar capim
como nem necessário ser.

O sabor do calado
aquele turvar de conversa
confiava-lhe horas severa
scom delicadeza de andor.

Era sempre assim ao sair de casa
a cancela misturando os rumos
os rumos se enlaçando no andar
desmerecendo as normas
desviando o olhar (...)